Sobre (re)descobrir a cidade e conhecer livrarias
Uma das coisas que fiz com minha obsessão de pensar sobre armazenar & cultivar o conhecimento foi escrever um conto sobre uma entidade, a Arquivista (originalmente chamada de Bibliotecária). Ela foi publicada na Faísca, newsletter de ficção relâmpago no episódio 15, mas saiu em áudio no podcast Assovio: e eu não estava preparado. Ficou muito legal! Se quiser, pode ouvir aqui.
Gosto muito da entrevista que enviei semana passada. Mesmo depois de anos, continuo pensando nas coisas que a Uva me disse. Primeiro, fica claro como a literatura é um esforço coletivo. Se alguma coisa foi publicada (ou não), se circula (ou não), é pelo resultado de algum projeto: o catálogo das livrarias; onde os livros estão expostos; quais livros uma editora publica e quais compõem uma coleção; quais vão para as bibliotecas e quais podem circular…
Além disso, o que mais me chama a atenção — e aluga um triplex na minha cabeça — é o entrelaçamento intenso entre o livro e a forma de publicação. Se hoje apontamos a necessidade do fim do capitalismo frente ao evidente colapso climático, por qual mudança o formato do livro precisa passar? Como propor coisas novas? Quais caminhos para publicar? Penso que as reflexões da Uva, do livro enquanto resultado de um trabalho comunitário, podem apontar direções.
Enfim… enquanto as minhocas rolam de um lado, seguimos por outro. Hoje tomamos um caminho oposto. Ao invés de refletir sobre o futuro, pensamos sobre o presente e o passado — sobre a existência das livrarias e nossas relações com elas.
Nesse trajeto, teremos a companhia de Livrarias: uma história de leitura e de leitores, livro escrito por Jorge Carrión, e da escritora, jornalista e pesquisadora Ana Rüsche, que nos conta um pouco sobre o projeto #LugaresDeLivros e de como as livrarias foram importantes no processo de (re)descobrir a cidade num mundo quase-pós-pandêmico.
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É isso. Em frente…
Sobre conhecer livrarias
Eu me interessei por Livrarias: uma história de leitura e de leitores, de Jorge Carrión, depois de ter me apaixonado pela leitura do A Biblioteca à Noite, do Alberto Manguel. Pensei que o relato apaixonado do argentino pelas bibliotecas (e a sua particular, em específico) pudesse, de alguma forma, ecoar no relato sobre livrarias.
Não ecoou. Em alguns momentos, Carrión se perde ao falar sobre suas experiências de viajar pelo mundo, nas histórias de escritores — e, quando vai por aí, as livrarias se tornam pano de fundo.
Mas ele é bem-sucedido ao mostrar as livrarias enquanto espaços de encontros: línguas, pessoas, ideias, livros. “Cada livraria condensa o mundo”, escreve Carrión. “Não é uma rota aérea, mas um corredor entre prateleiras o que une seu país e seus idiomas com extensas regiões onde outras línguas são faladas. (…) Não é uma rodovia, mas um lance de escadas, talvez um umbral ou nem mesmo isso: é uma virada o que vincula um gênero com outro, uma disciplina ou uma obsessão com seu reverso muitas vezes complementar”.
Inclusive, Italo Calvino sintetiza bem a potencialidade de encontros e diálogos em uma livraria com o romance Se um viajante numa noite de inverno. As imagens evocadas pela narrativa sempre aparecem quando penso livrarias. Já escrevi sobre o livro em outro lugar, mas ali temos a história de um Leitor que compra um livro, e, ao terminar o primeiro capítulo, percebe um erro de impressão e precisa trocar o exemplar. Ao longo de dez começos de dez livros diferentes, o Leitor tenta se aproximar de uma leitura, enquanto se apaixona por outra Leitora e descobre uma conspiração literária.
Ali, visualizamos as possibilidades das livrarias como centros de resistência, como espaços de encontro, como acolhida de leitores ou de movimentações para fora de uma zona de conforto. Como Carrión descreve, “toda livraria é por excelência um lugar de encontro: entre livreiros e livros, entre leitores e livros, entre leitores e livreiros, entre leitores viajantes. O caráter de familiaridade que todas as livrarias do mundo compartilham, sua natureza de refúgio ou bolha, torna a aproximação mais provável do que em outros espaços”.
Mas não é simples retomar a história das livrarias como temos feito com as bibliotecas — por serem espaços privados, pouco se registra e se documenta.
“A história das bibliotecas pode ser narrada cabalmente, mediante uma ordenação por cidades, regiões e nações, respeitando as fronteiras dos tratados internacionais, recorrendo à bibliografia especializada e ao próprio arquivo de cada uma delas, onde se documentou a evolução de seus acervos e de suas técnicas de classificação, e se conservam atas, contratos, recortes de imprensa, listas de aquisições e outros documentos que permitem estatísticas, relatórios e a cronologia. A história das livrarias, por sua vez, só pode ser relatada a partir do álbum de cartões-postais, e fotos, do mapa situacional, da ponte provisória entre os estabelecimentos desaparecidos e aqueles que ainda existem, de certos fragmentos literários; do ensaio” — Jorge Carrión, ‘Livrarias’.
Livrarias pelo tempo
Uma das imagens que Carrión evoca ao longo do livro é a das livrarias ao longo do tempo. O trajeto começa com a importância da cultura grega antiga para a cultura ocidental — e como não podemos compreendê-la inteiramente se não levarmos em consideração de aglutinadora de culturas e alfabetos diferentes.
Essa característica concentradora foi um dos fatores que permitiu a constituição deum espaço com tantos livros em tantas línguas. Ali, vimos os primeiros comerciantes de livros, uma mistura de editores com livreiros.
Como Jorge Carrión explica, ao que tudo indica “as primeiras livrarias gregas e romanas eram ou postos ambulantes e bancas onde se vendiam ou se alugavam livros (espécies de bibliotecas itinerantes), ou locais anexos às editoras” — constituídas por um grande número de copistas com alta concentração e disciplina, explorados, que transcreviam livros ditados com a menor taxa de erros possíveis. Por isso, centenas de cópias eram lançadas de uma vez pelos editores romanos.
O comércio desses livros era importante, inclusive, para a constituição das bibliotecas, inclusive da mítica Alexandria:
“A sombra da Biblioteca de Alexandria é tão densa que eclipsou o resto das bibliotecas anteriores, contemporâneas e futuras, e apagou da memória coletiva as livrarias que a alimentaram. Porque ela não nasceu do nada: foi a principal cliente dos comerciantes de livros do Mediterrâneo Oriental durante o século III a.C.. A biblioteca não pode existir sem a livraria, que está vinculada desde suas origens à editora. O comércio de livros já se desenvolvera antes do século V a.C., pois nessa época — em que a escrita ganha força diante da oralidade na cultura helênica — eram conhecidos em boa parte do Leste mediterrâneo os trabalhos dos principais filósofos, historiadores e poetas que hoje consideramos clássicos” — Jorge Carrión, ‘Livrarias’.
Jorge explica que “o diálogo entre as coleções particulares e as coleções públicas, entre a livraria e a biblioteca, é portanto tão antigo quanto a civilização”. Por exemplo, a elite romana não só procurava obras preciosas, mas também comprava livros por quilos, buscando um disfarce erudito pela quantidade massiva.
Mas, com a queda do Império Romano, diminui-se o tráfego de livros e, por muito tempo, a oralidade volta a ter força. Os livros, é claro, não se extinguiram, mas se tornam restritos ao clero, à nobreza e, ao longo dos anos, a um número crescente de estudantes que passaram a alugar livros.
Modernidade, vitrines e capas
Uma das imagens evocadas por Carrión durante a leitura que mais me chama a atenção é a do livraria no século XVIII, sentado atrás de uma grande mesa — geralmente próximo à imprensa ou à casa editorial —, com catálogos, pastas e gavetas de material costurado, mas não encadernado. Essa imagem, em si, é a imagem de uma livraria.
Os livros eram, normalmente, vendidos sem encadernação. O cliente escolheria que mais gostasse para os miolos guardados nas pastas. Inclusive, tirando vendedores ambulantes, era normal que a impressão fosse feita pelo próprio livreiro… só com o passar dos anos que as exibições adotaram um sistema duplo, com parte dos livros encadernados — mas antes da produção industrial.
Carrión cita a surpresa do escritor Goethe em Viagem à Itália, ao se deparar com livros encadernados em livrarias:
“O que é mais surpreendente para o estudioso e viajante alemão é o fato de que os livros estejam todos encadernados e que sejam completamente acessíveis, para que os visitantes possam dialogar também entre eles quanto com os volumes. A encadernação uniforme não se espalhou pela Europa até que fosse feita pela máquina correspondente, por volta de 1823, quando as livrarias começaram lentamente a parecer bibliotecas, porque ofereceram produtos acabados, e não livros feitos pela metade, de modo que a surpresa de Goethe tem a ver com o que eram encadernações artesanais”.
A partir daí, Carrión apresenta uma série de mudanças no consumo do livro que surgem no mercado editorial europeu: cadeias de livrarias, destaque dos folhetins, aumento de pessoas alfabetizadas e de fluxo possível pelas novas formas de transporte, profissionalização da produção editorial e do marketing — inclusive, a configuração da vitrine como exteriorização da experiência interior da livraria, um retrato exuberante da modernidade.
(Re)descobrindo a cidade pelas livrarias
Esse fluxo de consumo não parou de se desenvolver. Até os dias de hoje, vimos grandes cadeias dominarem (e desestabilizarem) o mercado livreiro, o consumo dos livros barateados e popularizados — muito consumidos por soldados na guerra, por exemplo.
Só que, por enquanto, vamos dar um salto até os dias de hoje e vamos acompanhar uma leitora que, num espaço de quase-pós-isolamento, compartilha no Instagram seu percurso de reconhecer a cidade e suas livrarias. Vamos falar do projeto #LugaresDeLivros, idealizado pela escritora e pesquisadora Ana Rüsche. São dela as fotos que acompanham essa edição.
Conforme Ana me conta, a série surge quando começou “a ver que eu não conhecia mais a cidade e foi uma crise que eu tive”, disse. Com o fechamento e a abertura de muitos estabelecimentos, Ana sentiu que não conhecia mais a cidade. “Eu me dei conta de que muitas livrarias que tinham aberto no final de 2019, que eu não tinha visitado, continuaram lá dois anos depois”.
Dessa constatação, Ana Rüsche listou lugares para conhecer e construiu uma espécie de percurso afetivo na cidade de São Paulo — ainda que tenha visitado espaços em Brasília e em Boston.
Carrión descreve as livrarias como uma espécie de segundo lar, de espaço seguro e aconchegante que abraça os que estão distante ou precisando de algum abrigo. Curioso ver como essa noção surge dos depoimentos de Ana.
Não apenas como parte profissional da sua carreira, mas a livraria surge como espaço afetivo. Sua infância é marcada pela livraria Manchete, o “lugar favorito em Ubatuba”, uma livraria que era espaço de lazer, sempre renovado, mas era também criador de comunidade, aglutinador de historiadores amadores da cidade.
Ana Rüsche visitou muitos lugares de livro que possuem essa carga sensível. Por exemplo, visitou a livraria alemã Bücherstube que, como escreveu no post: “de pequena, sempre me enchia os olhos. Pudera, além de livros, na loja, há enfeites para a casa, louças, lembrancinhas do Brasil, calendários, livros de cozinha”. De lá, não levou livros como lembrança da visita, mas “guardanapos chiques coloridos”.
Em outra postagem, conta sobre o sebo bagunçado e cheio de pó, com gatos passando pelas estantes, que marcou sua infância. Rever esse espaço, como Ana me conta, mexeu com ela. O sebo ostentava uma bandeira do Brasil na porta (“e sabemos o que significa uma bandeira do Brasil no meio da comunidade alemã, não sabemos?”, Ana reflete durante nossa conversa), apesar da beleza do espaço.
“Quando eu era adolescente, eu não sacava que tinha essas questões ideológicas. Eu só achava que era um lugar muito bonito e tinha essa coisa romântica dos livros empoeirados”, Ana me conta. “Eu lembro que meus pais não gostavam de ir lá. Talvez fosse por causa desses problemas ideológicos e não pela bagunça do lugar, entendeu?”
Mas, o que a escritora evidencia é que, geralmente, a livraria é um espaço acolhedor, sem entrada e sem consumo compulsório. “Você pode entrar só para ver os lançamentos, por exemplo”, afirma Ana. Claro, “pegando o gancho da última edição, a livraria é um espaço capitalista. É um espaço de consumo, antes de tudo. A gente pode até tentar se enganar… mas, como diria Frederic Jameson, mesmo nas formas mais mercadológicas, há um impulso utópico”, conclui ela.
Uma das atividades que Ana gosta de fazer nas livrarias é refletir sobre os catálogos. No caso das lojas das grandes redes, as publicações são bastante semelhantes, mas nas livrarias de bairro ou as menores, é possível fazer um exercício de construção do retrato dos livreiros e livreiras que atuam ali — e também do público que esperam. É “uma montagem específica”, como define Ana.
Quem explorar os posts, verá não só os relatos das visitas, mas algo como um miniperfil das localidades. No post da Livraria Simples, uma das pioneiras no projeto, você lerá que é “uma livraria dos livros impossíveis”. Ao falar da Megafauna, Ana diz que “é possível ver a curadoria nas escolhas na estante de entrada, dedicada a obras de autorias negras, e também na bancada central”.
Uma das prioridades de Ana Rüsche é a poesia. “Sempre confiro o tamanho e a curadoria do que tem na seção. É importante porque, como a poesia é de nicho, ir atrás de lançamento muito amor. Não são livros acessíveis, são editoras pequenas e, ao mesmo tempo, é uma grande arte”. À título de exemplo, ela descreve o perfil de um sebo cuja prateleira dedicada à poesia é imensa, mas com obras canônicas e do modernismo; compara com uma livraria com um setor impressionantes, com livros usados e difíceis de serem usados; e descreve outras com um espaços pequenos, apenas com lançamentos de editoras que são parceiras. Algumas, nem isso.
Carrión descreve esse intercâmbio como um fluxo intenso que materializa a textualidade na livraria — mais do que nas salas de aula ou na biblioteca. Uma troca que começa na curadoria e termina no fluxo pessoal do dia-a-dia de um comércio:
“São principalmente os leitores que se movem, que ligam os exemplares expostos ao caixa e, portanto, aos livreiros. (…) No entanto, a própria livraria, com ou sem compradores ou curiosos em seu interior, possui ritmos cardíacos próprios. Não apenas os de desempacotar, ordenar, devolver e repor. Não é apenas o caso das mudanças de pessoal. As livrarias também têm um relacionamento conflitivo com as instalações que as contêm, que parcialmente as definem, mas não as constituem. E com seus próprios nomes, que muitas vezes mudam com seus sucessivos proprietários. Por dentro e por fora, as livrarias são portáteis e mutantes”
Um exemplo curioso nesse “ritmo cardíaco próprio” é a reflexão do livreiro Romano Montroni, que Jorge Carrión apresenta no livro, sobre a importância do pó na atividade do livreiro: “o pó é um assunto de vital importância para um livreiro. Você tem que limpar o pó pela manhã, durante a primeira meia hora, de cima para baixo, no sentido horário. Quando tira o pó, o livreiro memoriza onde estão os livros e conhece-os fisicamente”.
Ao longo do livro, Carrión associa esse movimento à capacidade das livrarias de regenerar o tecido social e econômico da área em que estão — frequentemente inclusas em partes de projetos sociais, como centros de resistência ou alimentando o imaginário da literatura à margem.
No entanto, o escritor espanhol anuncia uma escassez nesse modelo de negócios, com livrarias que se tornam parte de grandes redes ou que abraçam uma produção em massa em detrimento dos títulos minoritários.
Ana Rüsche, por outro lado, vê uma outra tônica na movimentação nacional. “O que está acontecendo em São Paulo, mas que eu não sei se acontece nas outras capitais, é que, com o fechamento das grandes redes, basicamente Saraiva e Livraria Cultura, eu penso que as livrarias pequenas vão dar o tom da literatura”, me explica a escritora.
A palavra que Ana usa para estabelecer essa dinâmica é a do giro, da movimentação. As livrarias circulam com venda de livros, mas também de café, cerveja ou qualquer outra consumação feita no local. Até mesmo cursos ou palestras. Esse giro cria “um mecanismo de passar na livraria, mesmo que você não saiba o que encontrar, porque você sabe que é um lugar com pessoas agradáveis, com espaços confortáveis”. Eu, por outro lado, gosto da imagem do lugar amigável — um espaço em que sabemos que a colheita é certa e que encontraremos alimento.
Para Ana, o espaço das grandes cadeias de livro não consegue se igualar com o das livrarias menores. Nas livrarias de rede, não há a dedicação do tempo de qualidade de um funcionário qualificado ao leitor. O que há é um atendimento: impessoal, distante, frio.
“Nesse aspecto, a livraria do bairro é um lugar impressionante para formação de leitores”, diz Ana. “Vou dar um exemplo”, ela me conta: “Na livraria Ponta de Lança, ouvimos uma história do livreiro sobre Uma tristeza infinita, do Antônio Xerxenesky. Uma das pessoas no bairro comprou o livro, não estava gostando e foi reclamar. O livreiro conversou com ela e, uma semana depois, a leitora voltou e foi agradecer, dizendo que o livro era incrível. Isso é formação de leitores. É um trabalho de formiga, de conversar, de tirar da zona de conforto e apresentar coisas novas”.
No entanto, se deixarmos de lado o leitor e o livreiro por um instante, vemos que os lugares de livro também são importante para os escritores. Ana comenta que “quem escreve precisa ter uma livraria do coração, um espaço para se nutrir e para ter interlocuções”.
No caso de Ana, não só as livrarias, mas também as bibliotecas aparecem como espaços de resguardo. “Acho que a biblioteca é o espaço que eu mais me sinto segura no mundo”, me conta Ana, “mas manter uma biblioteca cheia é uma arte, porque você precisa estar em diálogo com seu entorno o tempo inteiro. Saber o que as pessoas gostam de ler, incentivar a leitura de coisas em várias frentes… É entender o que as pessoas querem e o que precisam”.
“A livraria é leve; a biblioteca é pesada”, escreve Jorge Carrión. Para o escritor espanhol, “a leveza do presente contínuo se opõe ao peso da tradição. Não há nada mais estranho à ideia de livraria do que a de patrimônio. Enquanto o bibliotecário acumula, entesoura, no máximo empresta temporariamente a mercadoria — que deixa de sê-lo ou congela seu valor —, o livreiro adquire para se livrar do que adquiriu, compra e vende, põe em circulação. Seu negócio é o trânsito, a passagem. A biblioteca está sempre um passo atrás: olhando para o passado. A livraria, por sua vez, está ligada à essência do presente, sofre com ele, mas também se entusiasma com seu vício em mudanças”.
Não sei quando termina minha concordância com a dualidade que Carrión estabelece, visto que o catálogo circulante de um biblioteca se faz extremamente necessário, mas é evidente que as estruturas de um comércio como o da livraria estão em uma crise perpétua — ainda mais acentuada no caso dos livros, da novidade versus o acervo.
Mas Ana recomenda que essa lógica dual faça parte de uma rotina. “Eu acho que é importante visitar uma biblioteca ou livraria quinzenalmente. Tem que fazer parte do trajeto. Faz bem para a cabeça, para o coração. É um momento de autocuidado. Tenho muito contato com mães, por exemplo, e é um passeio ótimo. Bibliotecas e livrarias têm espaços legais para crianças e pode ser legal para as duas faixas etárias".
Seja como for, experimente cada um desses locais e seus ritmos cardíacos próprios.
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Nos últimos 15 dias, eu:
Participei do episódio: “30:MIN 378 – Morangos Mofados – Caio Fernando Abreu (40 anos)”;
Tive publicado o conto Arquivista no episódio 15 da 5ª temporada da Faísca;
Tive publicado a versão em áudio do conto Arquivista no podcast Assovio.