Anêmonas de Adônis #02 — o nascimento dos deuses
Notas sobre Hesíodo, pan-helenismo e a primeira parte de ‘Teogonia’
(Texto publicado há alguns meses, primeiro para os apoiadores da Ponto Nemo. Se quiser receber esses textos em primeira mão e apoiar a continuidade do projeto, considere apoiar via Substack ou Catarse.)
Com a produção da temporada dos tricksters, o projeto das Anêmonas de Adônis acabou congelado pela demanda de trabalho. A proposta era se aproximar das leituras de textos clássicos de mitologia. Começando na Grécia, a leitura abrangia dois textos de Hesíodo, dois de Homero e um compilado dos chamados Hinos Homéricos.
O texto abaixo é o primeiro de leitura, depois da publicação de introdução. Começamos com Hesíodo e sua Teogonia. O percurso abaixo é de (1) visualizar o contexto da criação narrativa, anos depois de Homero e envolvida por um movimento de padronização cultural; e de (2) discutir alguns elementos que surgem nos primeiros versos do poema, como a concepção dos mortais como seres não-confiáveis, e escolhas interessantes da tradução de Christian Werner (ed. Hedra).
(1)
Quando apresentei a série na edição passada, elenquei como um dos companheiros no percurso Os mitos gregos, de Robert Graves. Nascido em 1895, em Londres, na Inglaterra, Graves foi poeta e romancista, reconhecido principalmente por narrativas históricas. Eu, Cláudio foi seu primeiro romance, escrito como uma autobiografia do imperador Cláudio.
Robert Graves, que cresceu pesquisando mitologia celta e irlandesa junto de Alfred Perceval Graves, seu pai, foi responsável pela tradução e análises inéditas sobre os mitos gregos — e foi para ele que a Penguin resolveu encomendar o calhamaço publicado em 1955, em dois volumes, e que sobrevive até hoje.
No entanto, não foi sem críticas que a obra de Graves foi recebida e é importante termos isso em mente quando citarmos o livro. Em primeiro lugar, o poeta britânico defende uma abordagem histórica e antropológica dos mitos, longe das interpretações da psicanálise. No entanto, as críticas apontam que Graves parece ficar em um espaço mais próximo da criação artística.
Jay Macpherson, em uma resenha publicada na revista acadêmica Phoenix [12:1], afirma que é uma criação poética e imaginativa, mas distante do espaço factual que diz estar. Importante ressaltar que os mais de 170 capítulos são organizados em três partes: primeiro, Graves conta a narrativa do mito. Depois, faz comentários explicativos e, por fim, cita uma lista de fontes. A argumentação de Macpherson aponta que as fontes não são bem organizadas ou selecionadas — além do difícil caminho de checagem e da articulação confusa, Graves usa o critério temporal para elencar a fonte mais crível e aí, quanto mais antigo, mais verdadeiro, e nem sempre funciona.
Além disso, Macpherson aponta que, em alguns capítulos, as hipóteses e interpretações possíveis são tantas e tão vagas que a narrativa e o mito se enfraquecem e diluem. Por fim, a resenha aponta para algumas escolhas bibliográficas que propositalmente omitem possíveis diálogos que contradizem sua linha de pensamento e ignora compêndios e dicionários mitológicos que foram publicados anteriormente.
As questões destacadas sintetizam os pontos gerais das críticas num geral e vamos mantê-las em mente agora, enquanto discutimos a introdução de Graves e o movimento do matriarcal para o patriarcal que descreve.
No começo de Os mitos gregos, o poeta britânico faz duas considerações importantes: (1) já existiam sistemas políticos e religiosos antes da invasão de povos arianos do Norte e do Oriente distante, que moldou e registrou grande parte das narrativas como conhecemos hoje; (2) a Europa da Antiguidade tinha uma sistema religioso homogêneo de adoração à Grande Deusa, ou Deusa-mãe, sem deuses masculinos — reflexo, também, de que o conceito de “paternidade” ainda não existia.
Graves escreve que “a Grande Deusa era considerada imortal, imutável e onipotente” e que “os homens obedeciam à matriarca, temiam-na e adoravam-na”. Nesse sistema, tanto a Lua quanto o Sol eram símbolos celestiais da deusa — e no que diz respeito à adoração lunar, já é possível visualizar diálogos com a mitologia grega como conhecemos.
Como diversas figuras da mitologia, as fases lunares formavam uma trindade: nova, cheia e velha; virgem, ninfa e velha. Em um primeiro momento, o movimento incorporou as mudanças sazonais. “Mais tarde”, como escreve Graves, “ela seria concebida como uma outra tríade: a virgem do ar superior, a ninfa da terra ou do mar e a velha do mundo subterrâneo — tipificadas, respectivamente, por Selene, Afrodite e Hécate”. Tal divisão, no entanto, não representava três deusas distintas, mas aspectos distintos da mesma divindade. Curioso, inclusive, que em um dos templos encontrados as três se reunissem sob um nome comum, Hera.
(Inclusive, se quiser ouvir mais sobre a presença constante de trindades em mitologias, recomendo o episódio Papo Lendário #241 — As três bruxas de Sandman na mitologia, do Mitografias)
De acordo com o poeta britânico, quando o coito passar a ter sua importância admitida , o status religioso do homem começa a aumentar e os rituais de sacrifício masculino para a fertilidade se alteraram. Graves analisa minuciosamente a constituição dos calendários e o tempo de regência (e de vida, também) dos amantes eleitos pelas representantes das deusas até resumir a movimentação da seguinte forma:
“A mitologia grega, em seus primórdios, está interessada, sobretudo, nas relações inconstantes entre a rainha e seus amantes, que começam com seus sacrifícios anuais ou bianuais e terminam — na época em que a Ilíada era escrita e os reis se gabavam: ‘Nós somos muito melhores do que nossos pais!’ — eclipsadas por uma irrestrita monarquia masculina.”
Por isso, Graves afirma que alguns mitos gregos são um reflexo da história político-religiosa. Alguns exemplos são interessantes, ainda que nenhuma dessas interpretações seja definitiva e que tenhamos visto as críticas ao trabalho do escritor britânico.
O primeiro dos casos envolve a domesticação de Pégaso e a morte da Quimera por Belerofonte e a decapitação da mãe de Pégaso, a górgona Medusa, por Perseu — que, provavelmente, deveria ser pronunciado como Pterseus, “destruidor”. Como escreve Graves,
“[Perseu] provavelmente representava os patriarcais helenos que invadiram a Grécia e a Ásia Menor no início do segundo milênio a.C., desafiando o poder da deusa tripla. Pégaso havia sido consagrado a ela, porque o cavalo com cascos em forma de lua constava dos rituais para atrair chuvas e da investidura dos reis sagrados. Suas asas simbolizavam mais uma natureza celestial do que velocidade. Jane Harrison chamou a atenção (…) para o fato de que a Medusa foi, no passado, a própria deusa, escondendo-se atrás de uma máscara gorgônea profilática: um rosto horrendo com a função de advertir os profanos de não violar seus Mistérios. Perseu decapitou a Medusa: ou seja, os helenos devastaram os principais templos da deusa, despojaram as sacerdotisas de suas máscaras gorgôneas e se apoderaram de seus cavalos sagrados — uma representação antiga da deusa com cabeça gorgônea e corpo de égua foi encontrada na Beócia. Belerofonte, a contraparte de Perseu, matou a Quimera lícia: ou seja, os helenos anularam o velho calendário medúsico, substituindo-o por outro.”
O exemplo seguinte envolve Apolo — especificamente o episódio em que mata Píton e em que persegue Dafne, transformada em loureiro. Essas situações “parecem querer registrar a captura do templo da deusa Terra cretense pelos aqueus”. Segundo Graves, a interpretação freudiana é que esse mito representa o “horror instintivo das meninas diante do ato sexual”, mas Dafne seria uma contração de um nome que significaria “a sanguinária” e seus rituais envolviam mascar folhas de louro e atacar viajantes. Eram tudo, menos virgens assustadas.
Em resumo, o sistema religioso matriarcal foi, aos poucos, perdendo espaço. O Rei, agora ungido por Zeus, Poseidon ou Apolo, recusou a morte nos rituais lunares e passou reinar ao longo do tempo em que vivesse. Os homens também deixaram de ser os migram para casar. Nas narrativas, o sistema olímpico conciliou as visões duas visões — seis deuses, seis deusas; Zeus e Hera regendo de forma conjunta… até que Hera torna-se subserviente a ele, com apoio total de Atena. Dionísio, ao substituir Héstia, instaura a preponderância masculina no Conselho dos Deuses.
(O selo Goya da editora Aleph lançou no fim do ano passado o livro Quando Deus era mulher, de Merlin Stone. Não li, mas fica a recomendação para quem quiser ver esse & outros movimentos de passagem do matriarcal para o patriarcal)
Como Graves explica, embora as deusas tenham se tornado minoria, não foram expulsas do panteão “porque os reverenciados poetas Homero e Hesíodo haviam ‘dado título às divindades e distinguido suas numerosas províncias e poderes especiais’ (Heródoto: II. 53), ato que não poderia ser facilmente revogado” — não que isso significasse algum respeito pelas figuras femininas. No caso de Hesíodo, muito pelo contrário.
É o que vamos ver.
Teogonia, de Hesíodo
Se hoje temos Zeus em alta conta ao pensar na mitologia grega, grande parte do motivo vem de Hesíodo e sua Teogonia — narrativa que o consagra como entidade soberana do Olimpo desde as primeiras linhas.
Os trabalhos do poeta grego, Teogonia e Os trabalhos e os dias, estão inseridos em um movimento de integração das regiões helênicas (e, se você não souber muito bem onde fica, só conferir o mapa abaixo) chamado pan-helenismo. Christian Werner, professor de Língua e Literatura Grega na Universidade de São Paulo e tradutor das obras que vamos ler, explica esse processo na introdução do livro.
Ao citar o artigo História e etnicidade: Homero à vizinhança do pan-helenismo, escrito por Alexandre Santos de Moraes, explica que o pan-helenismo pode ser caracterizado como “um discurso político capaz de prover uma sensação de pertencimento às comunidades de língua grega, baseados em critérios simultaneamente culturais e políticos de caráter aglutinador e que atuou na produção e reprodução da identidade helênica”.
Werner também afirma que
outra forma de contextualizar os poemas no tempo está ligado a tentativas de reconstituir os séculos VIII e VII a.C. como a época na qual se sedimentaram uma série de fenômenos culturais e políticos que acabaram por definir as sociedades gregas, em especial o surgimento da polis como principal organização política e social, o templo de Apolo e seu Oráculo em Delfos como um santuário de todos os gregos, festivais de cunho religioso, como os Jogos Olímpicos, que passaram a atrair participantes de uma ampla gama de territórios grego, a reintrodução da escrita, o culto aos heróis etc.
Tal caráter de coesão está presente nas páginas da Teogonia, de Hesíodo. Quando o poeta narra a criação dos deuses e do universo — portanto, uma teogonia entrelaçada com uma cosmogonia —, está também apontando quais são os mitos universais verdadeiros e quais são os regionais falsos.
Antes de nos debruçarmos na narrativa, importante ressaltar a dificuldade da tradução. Werner comenta sobre isso tanto no começo do livro quanto no episódio Hedra Edições #2 - Veredas da Teogonia, com Christian Werner, do podcast da editora.
Christian Werner afirma que não procurou nenhuma padronização rígida, mas adotou como critérios o bom senso, o repertório do leitor e a sonoridade — mantendo a transliteração dos nomes e as figuras etimológicas nas notas de rodapé.
Um dos casos emblemáticos que cita é a entidade grega chamada Khaos. Werner afirma que podemos traduzir como Caos, só que, como a percepção do termo à época não era de matéria indistinta, mas de um vazio sem forma, opta pela adoção de Abismo.
Além disso, tanto em Teogonia como em Os trabalhos e os dias, Werner tentou recriar a linguagem densamente poética e dos jogos de linguagem que havia no grego — um dos motivos do sucesso do segundo poema é a facilidade com que alguns trechos podem se tornar provérbios. Leremos ambos por aqui. Werner ressalta que, enquanto o primeiro se volta às divindades, o segundo se volta para as condições humanas. Hesíodo escreve como se deuses fossem pessoas imortais e pessoas, deuses imortais.
Por fim, Werner também cita na entrevista ao podcast como a misoginia nas obras de Hesíodo é uma realidade inescapável — e veremos isso principalmente na figura de Pandora em Os trabalhos e os dias, em que a mulher surge para devorar o que o homem produz.
Daqui para a frente, durante a leitura de Teogonia, vou dividir as seções de acordo com a proposta de William G. Thalmann, destacada por Werner. Entre colchetes, as linhas que compõem o trecho selecionado. Depois, o título que revela a temática.
(2) [1-115] Proêmio
Para não deixar a edição extensa, hoje falaremos apenas do Proêmio — trecho introdutório de diversas obras gregas. Aqui, Werner destaca um movimento curioso: a passagem de uma autoridade coletiva e plural, o coro das Musas, para uma entidade individual, Hesíodo (mesmo que não saibamos se houve, de fato, um sujeito Hesíodo). Curioso ressaltar que, ao contrário de Homero, Hesíodo tanto é nomeado quanto narra o seu encontro com as entidades que conferem autoridade e precisão do conteúdo. Em outras palavras, Hesíodo fala a verdade porque as Musas a disseram para ele.
Outro elemento destacado nas falas do Proêmio é a importância dada a Zeus, seu poder soberano e sua ubiquidade. Werner explica que a recorrência com que a entidade é colocada em destaque mostra “Zeus sendo celebrado como deus supremo pelas Musas, e isso, de fato, é o que faz o poema como um todo, pois, embora Zeus não seja o primeiro deus, do ponto de vista da sequência do poema, é como se ele fosse, já que nenhum deus é tão poderoso ou merece ser tão celebrado como ele”.
Na construção da veracidade do canto, destaco aqui a fome humana como algo que nos torna essencialmente mentirosos.
“Pastores rústicos, infâmias vis, ventres somente, sabemos falar muito fato enganoso como genuíno, e sabemos, quando queremos, proclamar verdades” — Hesíodo, em ‘Teogonia’
Lewis Hyde, escritor do livro A astúcia cria o mundo — Trickster: trapaça, mito e arte, comenta a questão dos estômagos na cultura grega. Ao descerem para falar com Hesíodo, as musas criticam os pastores rústicos por serem “meros estômagos” (ou “ventres somente”, na tradução de Werner). Guiados pelo apetite, mentem para agradar os anfitriões e garantir o alimento. A mortalidade, então, torna as pessoas essencialmente mentirosas. Em Odisseia, por exemplo, Odisseu é frequentemente desacreditado por parecer um viajante com fome.
Mas o que está em jogo não é o status econômico ou social do interlocutor, mas o conflito entre dois textos diferentes: o poeta do tempo de Homero e o do tempo de Hesíodo. “No mundo homérico”, escreve Lewis Hyde, “viajantes e poetas orais itinerantes supostamente ajustavam suas narrativas para que se adequassem aos gostos e às crenças de uma plateia local. Às vezes, na Odisseia, as pessoas dizem que um andarilho sempre mentirá porque tem estômago; outras vezes, dizem que mentirá até estar alimentado. De qualquer forma, temos novamente a ligação que as Musas alegam existir entre mentir e ser um mortal que precisa comer. De modo inverso (…), um ser imortal é, por definição, aquele que está livre do estômago odioso; as Musas creem que verdades imortais não podem ser proferidas, exceto por aqueles que estão similarmente livres”.
Conforme vimos acima, o que essa dualidade afirma é que aqueles que estão fora do processo de unificação proposto no pan-helenismo são mentirosos, como Homero. Por outro lado, aqueles que aceitam as verdades das Musas podem receber a mensagem unificadora e verdadeira, como Hesíodo.
Homero e Hesíodo, portanto, são representantes de dois períodos distintos: os poetas que viajavam na época do primeiro precisavam variar seu repertório conforme vagavam entre as cidades — o que fazia com que o verdadeiro e o falso fosse volúvel, de acordo com a crença local; por outro lado, aqueles que viajavam na época do segundo precisavam recitar para públicos homogeneizados, de acordo com um sistema que permanece o mesmo ainda que viaje por diferentes cidades e por vários festivais.
Ou seja, podemos entender que Hesíodo está se libertando da condição de “mero estômago” ou de “ventre somente” pois seu repertório será imutável & imortal. Não há necessidade de novos ciclos. O poeta recebeu das próprias Musas a verdadeira narrativa pan-helênica. Todas as teogonias foram suprimidas pela sua Teogonia.
Durante a leitura…
Como uma transposição dos rabiscos que fiz no livro, gostaria de colocar algumas observações que surgiram durante a leitura. Aqui, logo no começo, as Musas desceram e louvaram uma série de figuras principais, partindo de Zeus e indo para trás, até Terra, Oceano e Noite.
Interessante notar que, quando dizem que “a Hesíodo o belo canto ensinaram”, podemos pensar não no canto específico da Teogonia, mas à produção artística do Hesíodo como um todo. O poeta agora é o portador da verdade das Musas.
Além disso, Hesíodo precisa “glorificar o que será e foi”, frase que denota a temporalidade solta que corre no poema — muitas vezes colocando em paralelo coisas que foram com as que serão, um fluxo próprio dos relatos míticos. Além disso, as Musas afirmam que é preciso “louvar a linhagem dos ditosos sempre vivos”, ou seja, os imortais, e a “elas mesmas em primeiro e por último”.
Assim, com o aviso de que é preciso falar delas, Hesíodo passa a cantar sobre as Musas — quase um exercício de metalinguagem: recebe o aviso e, prontamente, passa a explicar as razões do acontecimento; como tudo aconteceu, acontece e acontecerá, no mesmo fluxo temporal citado acima. Como se as primeiras homenagens fossem feitas pelas Musas, agora acompanhamos Hesíodo dando honras à Zeus, “pai de deuses e homens” e “o mais forte dos deuses e supremo em poder”.
Curioso que, em Hesíodo, as Musas sejam nascidas da relação entre Zeus e Memória — como descrito no trecho: “por nove noites com ela [Memória, ou Mnēmosýnē] se uniu o astucioso Zeus longe dos imortais, subindo no sacro leito; mas quando o ano chegou, e as estações deram a volta, os meses finando, e muitos dias passaram, ela gerou nove filhas concordes”. Tenho a impressão de que lemos como, sem Zeus, nada disso seria possível: hino, história, festival. Vejamos o que surge dessa relação (e a escolha da tradução dos nomes):
Glória — do grego, Klio. Em outras versões, Clio ou História;
Aprazível — do grego, Euterpē. Em outras versões, Euterpe ou Música;
Festa — do grego, Thaleia. Em outras versões, Tália ou Comédia;
Cantarina — do grego, Melpomenē. Em outras versões, Melpômene ou Tragédia;
Dançapraz — do grego, Terpsikhorē. Em outras versões, Terpsícore ou Dança;
Saudosa — do grego, Eratō. Em outras versões, Erato ou Poesia Romântica;
Muitacanção — do grego, Polumnia. Em outras versões, Polímnia ou Hinos;
Celeste — do grego, Ouraniē. Em outras versões, Urânia ou Astronomia;
Belavoz — do grego, Kalliopē. Em outras versões, Calíope ou Poesia Épica.
De certa forma, é Zeus quem permite que a história seja contada, que a arte seja produzida e que a memória se torne fértil. Enfim… a partir daí, começamos efetivamente o poema para glorificar “a sacra linhagem dos imortais sempre vivos” e dizer “como no início os deuses e a Terra nasceram”, contando “qual deles primeiro nasceu”. É de onde seguiremos na próxima edição.
… antes do fim, queria destacar, de forma pontual e aleatória, uma expressão que gostei bastante. Em certo momento, Hesíodo diz: “mas por que falo disso em torno do carvalho e da pedra?”. Conforme a nota explicativa, “o uso que Hesíodo faz dessa expressão é controverso; independente do contexto poético, uma análise comparativa indo-europeia propõe que o sentido da fórmula utilizado aqui é ‘de forma geral, de tudo um pouco’. Hesíodo, portanto, se perguntaria: ‘por que divago?’”.
Ele diz isso no momento após as Musas realizarem as homenagens dos cantos delas e imediatamente antes dele realizar as dele. Ou seja, antes de repetir tudo o que elas disseram nesse movimento de história dentro da história, quase como uma justificativa da repetição. Achei uma expressão divertida.
Próxima edição
Continuamos a leitura de Teogonia, de Hesíodo, falando sobre o mito de sucessão — Céu, Cronos e Zeus — e sobre a natureza dos “monstros”.
Obrigado por ler e apoiar!
Não deixe de conferir as últimas edições da Ponto Nemo.
Doido pra te ver falando das Moiras!