Resenha: As (sub)criações de J.R.R. Tolkien
Biografia de Tolkien e livro sobre histórias de fadas trilham caminho até a Terra-Média
Biografia de Tolkien e livro sobre histórias de fadas trilham caminho até a Terra-Média
J.R.R. Tolkien: O Senhor da Fantasia, de Michael White (2016).
Darkside- 275p. R$59,90
Sobre Histórias de Fadas, de J.R.R. Tolkien (2010).
Conrad- 120p. Esgotado
Segundo Tolkien, a invenção do adjetivo foi poderosíssima: “nenhum feitiço ou mágica do Belo Reino é mais potente [que os adjetivos]”, disse ele em seu livro Sobre Histórias de Fadas. Assim, Tolkien continua, “podemos pôr um verde mortal no rosto de um homem e produzir horror, podemos fazer reluzir a rara e terrível lua azul, ou podemos fazer com que os bosques irrompam em folhas de prata e os carneiros tenham pelagem de ouro, e pôr o fogo quente no ventre do réptil frio. Mas numa ‘fantasia’, tal como a chamamos, surge uma nova forma: o Belo Reino vem à tona, o Homem se torna subcriador”.
Para Tolkien, a Fantasia é uma das maiores formas de expressão da arte e um direito humano: como católico, ele acreditava que nós subcriamos por direito pois fomos, nós mesmos, feitos. “Não somente feitos, mas feitos à imagem e semelhança de um criador”.
Provavelmente todo escritor que faz um mundo secundário, uma fantasia, todo subcriador, deseja em certa medida ser um criador de verdade, ou espera estar se baseando na realidade: espera que a qualidade peculiar desse mundo secundário (senão todos os detalhes) seja derivada da Realidade, ou flua para ela — J.R.R. Tolkien
Toda a “criação” feita por mãos humanas é nomeada como secundária ou subcriativa, mas sem tons pejorativos. É uma faísca divina. Para Tolkien, algumas classificações separariam a subcriação da representação ou interpretação simbólica de belezas e terrores do mundo, que seriam os mitos. Neste, estariam as alegorias da natureza, como mudanças elementais e os processos naturais. Naquele, teriamos contos populares, histórias de fadas e os contos infantis. Entre os dois, as sagas, os épicos e as lendas heroicas humanizariam as alegorias, atribuindo os feitos naturais à heróis humanos, mais poderosos e ancestrais. Para Tolkien, a divisão é infundada.
Tolkien usa Thor de exemplo e pergunta: como saber “o que veio primeiro, as alegorias naturais sobre um trovão personalizado nas montanhas, partindo rochas e árvores, ou narrativas sobre um fazendeiro de barba ruiva, irascível e não muito esperto, de força além da medida comum, uma pessoa (em tudo menos na estatura) muito semelhante aos fazendeiros do Norte, os baendr, por quem Thor era especialmente adorado”? Para ele, o ideal é supor que as narrativas apareceram ao mesmo tempo.
Ocasionalmente vislumbra-se na mitologia algo realmente “mais elevado”: a Divindade, o direito ao poder (diverso de sua posse), a devida adoração; na verdade, “religião”. Andrew Lang disse, e alguns ainda o elogiam por dizê-lo, que mitologia e religião (no sentido estrito da palavra) são duas coisas distintas que ficaram inextricavelmente enredadas, apesar de a mitologia em si ser quase isenta de significado religioso — J.R.R. Tolkien
Ou seja, o mito de Thor e sua versão em conto popular sempre existiriam: “Quando acabasse o conto de fadas, haveria apenas o trovão, que nenhum ouvido humano jamais escutara”, disse Tolkien.
Foi a escrita desses questionamentos que fez com que Tolkien retomasse o caminho da escrita de O Senhor dos Anéis. No fim desta trajetória, o mundo conheceria a Terra-Média e seus hobbits. Mas de que maneira a subcriação do Belo Reino da Terra-Média foi estruturada ao longo dos anos?
A biografia de Tolkien, escrita por Michael White, foi publicada pela primeira vez em 2001, na Inglaterra, e nos anos seguintes o livro passou por diversas edições, versões e traduções. White vai da infância de Tolkien até a publicação póstuma de alguns de seus livros, sem deixar de lado o impacto da Terra-Média na cultura. Uma presença constante no livro é a das Guerras Mundiais. Elas são apresentadas com J.R.R. Tolkien nos dois lados do “balcão” da academia: tanto como aluno que se alista, quanto como professor que lança O Hobbit com salas de aula vazias.
O clima é similar ao apresentado no livro Stoner, de John Williams, quando um agricultor se forma em literatura e se torna professor. Em ambos os casos, as universidades são trocadas pelos batalhões.
Não só o contexto é presente, como é dito que sua experiência na Batalha de Somme e a perda de dois de seus amigos em combate foram elementos importantes para a subcriação da Terra-Média:
O sentido de que nunca há uma vitória completa e que todo triunfo sempre é manchado pela perda é um elemento poderoso no universo de Tolkien. Através de todo seu ciclo épico, a vitória é sempre alcançada com um custo atroz, o sucesso sempre é, ao final, parcialmente temperado com o fracasso. Um tom de tristeza, fragilidade e impermanência fundamenta tudo a respeito da Terra-Média — Michael White
A visão é complementada quando, no capítulo Mundos Fantásticos, White apresenta três pontos que permearam os mais de sessenta anos de trabalho de Tolkien:
Os campos da Inglaterra e as brincadeiras de Tolkien e seu irmão que lá tomavam forma;
Tolkien queria escrever uma mitologia para Inglaterra, porque “a partir dos estudos de línguas e culturas antigas que usavam estas línguas, ele chegou a conclusão de que, ao contrário da Islândia, da Escandinávia e da Europa Central, a Inglaterra não tinha um conjunto significativo de lendas escritas que formassem uma mitologia completa”, tinha apenas alguns fragmentos, como os contos de rei Artur;
Estudos linguísticos. O estudo de uma língua é o estudo de uma cultura e, ao estudar as línguas antigas, “Tolkien começou a apreciar o conceito de mito, que atuava como um documento da cultura. Percebendo isso, ele poderia então começar a construir sua própria mitologia para descrever uma cultura ficcional, um completo universo ficcional, na verdade, cujas raízes estão assentadas nas línguas dos povos de seu reino fantásticos. Para Tolkien, a língua, e particularmente as línguas dos elfos, forneceu a semente para seu épico”.
Escrevendo no vazio
Um fator que Michael White ressalta na biografia é a surpresa que foi o trabalho de Tolkien, principalmente “quando consideramos que Tolkien estava realmente escrevendo no vazio. Além do fato de estar trabalhando sem qualquer apoio de um editor e sem razão para acreditar que seus livros jamais seriam lidos por mais que alguns amigos próximos, temos que lembrar que praticamente não havia precedentes para o que ele estava tentando fazer”. Algumas referências do escritor são citadas, como Walter Scott e William Moriss, que escreviam textos com temática medieval, e Edward Dunsany, escritor de fantasia no fim do século XIX. Também é provável que Tolkien tenha lido escritores como H.G. Wells, Jonathan Swift e Jules Verne, mas não há registros.
Além disso, uma forte influência no trabalho de Tolkien foi o clube informal de Oxford, os Inklings. Formado por diversos escritores e pesquisadores, o clube teve participantes como Charles Williams, Owen Barfield, C.S. Lewis e o próprio J.R.R. Tolkien. Os Inklings não discutiam apenas de literatura, mas sobre qualquer coisa que desse vontade, como religião.
Assim como todos os clubes semelhantes, este era tanto uma desculpa para reunir-se com os amigos, compartilhar de noites bebendo cerveja e ter algum alívio das pressões do dia a dia de trabalho, quanto um estudo levado a sério. Mas o objetivo original do grupo era ler todas as sagas islandesas mais importantes, o que, no começo dos anos 1930, haviam alcançado — Michael White
A amizade entre Lewis e Tolkien é um dos pilares dos Inklings. Os dois conheceram-se nas reuniões acadêmicas de Oxford e, conforme se conheciam, passaram a se reunir, com outras pessoas, na sala de Lewis. O local logo seria alterado para um bar, onde os Inklings têm uma placa em sua homenagem. No entanto, a relação dos dois foi uma estrada esburacada e não durou tanto quanto poderia.
Tolkien era católico, conservador e possuía poucas amizades, as quais cuidava com afinco excessivo. Lewis não era tão devoto à amizade, era mais liberal e ateu. Tais diferenças dinamizaram a amizade e depois se uniram a fatores que tornaram o relacionamento insustentável.
Em primeiro lugar, as discussões teológicas dos Inklings converteram C.S. Lewis. O fato não agradou Tolkien. Como participante ativo na conversão, ele não ficou contente quando Lewis seguiu uma vertente do protestantismo irlandês, ao invés do catolicismo romano. Em segundo lugar, as amizades de Lewis e seu casamento com uma mulher divorciada, independente, com filhos e judia tampouco agradava o amigo conservador. Por último, é possível que a alta vendagem dos livros sobre Nárnia tenha ressentido Tolkien.
De qualquer forma, o sucesso da dupla alçou os Inklings ao status de referência. Em 1997, o jornalista Nigel Reynolds colocou o clube num patamar mais elevado que diversos clubes de escrita, como o Grupo de Bloomsbury. O Bloomsbury existiu entre 1905 e o fim da 2ª GM e foi composto por artistas e intelectuais como Virginia Woolf, E.M. Forster e Clive Bell.
Michael White classificava esse mundo do clube como um mundo masculino, principalmente por ser um clube restrito e sem nunca ter admitido uma mulher. Bilbo Bolseiro foi quase uma personificação de seu criador, conforme descrito em sua biografia:
Tolkien desconfiava e, por vezes, desdenhava do século XX. Ele era uma espécie de ludita e acreditava que a ciência e a tecnologia não haviam feito nada de louvável para mudar o destino da humanidade. Resistiu a ter um carro até que se tornasse uma necessidade prática e Edith seguiu seu caminho (e mesmo assim se livraram dele anos depois). Ele nunca teve um aparelho de TV e escutava rádio muito raramente. Não gostava de literatura, música e teatro modernos e não tinha tempo para a política contemporânea. Pode-se dizer que não desejava realmente viver no mundo moderno, em todos os aspectos, e que a sua desaprovação era em parte um estímulo à sua criatividade; ele preferia muito mais a Terra-Média.
Além disso, o conservadorismo estava presente em seu casamento. Edith, sua esposa, mudou-se diversas vezes para casas onde não estava confortável por conta dos empregos de Tolkien e foi obrigada a abandonar o protestantismo para casar-se em igreja católica. Essa faceta aparece em sua obra. O biógrafo ressalta que “devemos lembrar que ele era um homem antiquado, com vários pontos de vista vitorianos”, ou seja, um homem com posicionamentos relativos ao século XIX.
Tolkien é impecável em seu retrato do heroísmo e naquilo que talvez possamos considerar “fortes emoções”, mas é certamente verdade que ele lida com qualquer relação entre os sexos opostos de maneira extremamente desajeitada — Michael White
História de Fadas
Depois do sucesso da publicação dO Hobbit, Tolkien foi pressionado para escrever uma continuação. Sem conseguir publicar o que considerava sua melhor obra, O Silmarillion, tentou escrever “um novo Hobbit” e frustrou-se pelas dificuldades literárias. Foi quando Tolkien preparou a conferência que deu origem ao Sobre Histórias de Fadas, em 1939, que o foco em sua produção literária é retomado e os contornos sobre O Senhor dos Anéis são definidos e estabelecem diálogos com O Silmarillion.
O reino das histórias de fadas é amplo, profundo e alto, repleto de muitas coisas: todas as espécies de animais e aves se encontram por lá; oceanos sem margem e estrelas incontáveis; uma beleza que é um encantamento, e um perigo sempre presente; alegrias e tristezas agudas como espadas. Um homem pode talvez se considerar afortunado por ter vagado nesse reino, mas sua riqueza e estranheza atam a língua do viajante que as queira relatar. E, enquanto ele está por lá, é perigoso que faça perguntas demais, para que não se fechem os portões e não se percam as chaves.
- J.R.R. Tolkien na abertura de Sobre Histórias de Fadas
O livro responde três perguntas sobre as histórias de fadas: qual a origem delas, o que são elas e para que servem? Ao responder a primeira pergunta, Tolkien destaca que procurar a origem das histórias “deve significar a origem ou as origens dos elementos fantásticos. Perguntar qual é a origem das histórias (não importa como estejam classificadas) é perguntar qual é a origem da linguagem e da mente” e é daí que parte o primeiro click sobre a dimensão de seu universo. Tolkien percebeu que tinha um extenso universo em suas mãos.
Segundo seu biógrafo, White, “ele logo se deu conta de que a Terra-Média era um lugar muito maior do que havia sido revelado para ele e seus leitores em O Hobbit. A Terra-Média tinha sua história e geografia (…). Mas, sobretudo, Tolkien já havia criado a magnífica mitologia, história e geografia, muito do passado lendário e a estrutura auxiliar para uma pequena fábula; já havia escrito O Silmarillion”.
A conferência foi tão significativa que, ao sair em livro, saiu junto com um conto chamado “Folha por Niggle”, uma alegoria que se encaixava com o próprio processo criativo de Tolkien. Sua filha, Priscilla, afirma que é o conto mais autobiográfico do pai. A história conta a história de Niggle, um pintor que se preocupa com os mínimos detalhes de seu trabalho e, mesmo sabendo que vai morrer, não consegue terminar seu quadro durante a vida; o faz no purgatório, antes de ir para o paraíso. White comenta que a escritura do conto também deu rapidez ao trabalho de Tolkien.
Terra-Média
No entanto, o fim do livro de Michael White retoma deslizes do começo do livro e comete mais alguns: junto da falta de nomeação das fontes consultadas e o uso de lugares comuns, White tenta analisar a obra de Tolkien sob uma perspectiva rasa de psicologia.
O primeiro ponto a ser destacado é que White afirma que Tolkien escrevia pela necessidade de se reencontrar com a mãe falecida. A ida à Terra-Média era a travessia percorrida inconscientemente para voltar aos braços da mãe. A perspectiva, que é desenvolvido em poucos parágrafos, é justificada pela similaridade dos campos onde passou a infância com o ambiente pacato da cidade dos hobbits.
Além disso, tenta categorizar a escrita dO Senhor dos Anéis em diversas possibilidades de alegoria: uma mensagem cristã, um livro contra o modernismo e/ou contra a guerra. White, inclusive, chega a fazer uma comparação fraca e infundada entre os personagens da Terra-Média e os bíblicos.
Frodo demonstra qualidades próprias de Cristo — ele é o portador do Anel, sobrecarregado com a cruz -, é tentado na Montanha da Perdição, assim como Cristo foi tentado. Sauron ou Melkor (ou Morgoth) são, visivelmente, figuras do inferno: Morgoth, o valar caído ou o anjo negro; Sauron, o maiar caído, um demônio com outro nome. Gandalf é, claramente, um profeta. Mas e Galadriel? Ela aparece somente por um momento, mas manifesta uma presença poderosa por toda a segunda metade de O Senhor dos Anéis. Ela é um dos desonrados noldor que desobedecem aos valar durante a Primeira Era, mas talvez tenha algo de Virgem Maria — Michael White
Essa postura traz uma falta de consideração com as provas acessíveis. White reconhece que não há como provar a presença das alegorias, como ao dizer que “Tolkien alegou que odiava alegorias em qualquer aspecto ou forma e negava vigorosamente a existência de qualquer forma de alegoria em seus escritos”, mas retoma o posicionamento ao dizer que ele o fez sem conhecimento ou consciência dos seus atos e sem nenhum aprofundamento teórico que justificasse sua crença.
Ele também parece ignorar estudos sobre os mitos e seus arquétipos. Apesar de citar os estudos sobre o “inconsciente coletivo” nos últimos três parágrafos do livro, ele não reconhece a complexidade simbólica que tais narrativas implicam. Em seus estudos, Joseph Campbell percebeu uma estrutura que se repetia em qualquer narrativa mítica e que atuava como uma espécie de forma para qualquer história a ser contada. Os elementos foram organizados e chamados de A Jornada do Herói (ou Monomito). Ali, foi possível identificar não só modelo de situações, como o Chamado para a Aventura, mas também de alguns perfis, como o do próprio Herói ou do Mentor.
Tolkien, quando escreveu O Senhor dos Anéis, não fugiu à regra. A riqueza simbólica de seu trabalho pode ser comparada com diversas histórias pois estão permeadas pela Jornada do Herói. Michael White não ignorou isso completamente, já que chega a comparar as produções da Terra-Média com Star Wars e Harry Potter, mas faz uma tentativa intensa de encaixar o livro em alguma alegoria.
Tolkien pode enriquecer a crítica em seus apontamentos no Sobre História de Fadas. Primeiro, ele defendia a singularidade de cada história. Ao discorrer sobre os estudos folclóricos, Tolkien comentou que “são precisamente o colorido, a atmosfera, os inclassificáveis detalhes individuais de uma história e, acima de tudo, o teor geral que dotam de vida os ossos não dissecados do enredo, que realmente fazem a diferença” e isso faz com que mesmo duas versões de Chapeuzinho Vermelho sejam duas histórias diferentes e não a variação de uma. Em segundo lugar, Tolkien sabia do poder e da universalidade das subcriações. Por exemplo, via no texto sagrado do catolicismo, Os Evangelhos, a estrutura das histórias de fadas e reconhecia que tanto os Mitos e a História eram compostos pela mesma matéria.
Mas a questão do conservadorismo na Terra-Média não pode ser descartada. Campbell, no quarto volume das Máscaras de Deus, Mitologia Criativa, destacou que as narrativas “se organizam ao redor de cânones mitológicos — “uma organização de símbolos, de significado inefável, capaz de despertar e concentrar em um foco as energias da aspiração”. É em torno desses cânones que a transformação de sociedades pode ser observada, diz Campbell. Nesse sentido, Tolkien diz que as histórias de fadas não são rígidas e imutáveis. “Elementos antigos podem ser extraídos, ou esquecidos e descartados, ou substituídos por outros ingredientes com a maior facilidade”, afirma em seu livro.
Por fim, é possível dizer que Tolkien interpretou mensagens universais que compõem mitos e as traduziu, permeadas pelos valores conservadores que compunham seu cotidiano. Tal característica se infiltrou em todos os relatos sobre a Terra-Média e hoje podemos perceber e questionar tais posicionamentos, mas a associação de seu trabalho exclusivamente à alegorias é imprudente.
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