Pelas frestas, entre as ripas do piso, eu vi o Firmamento...
Breve contexto sobre a escrita do conto "Aquela que repousa no centro do moinho"
Tem uma história que sempre quis contar. Minha perspectiva sobre parte da família. E do meu avô materno, Duílio, e eu.
Em um caderno pequeno, tenho anotações de alguns anos. O primeiro registro é de 2018, quando fiz uma entrevista com minha avó, Margarida, sobre a vida dela a partir do momento em que ela, vindo como noviça aos 20 e poucos anos do interior de Minas Gerais para São Paulo, se encontra com meu avô, um padre na casa dos 40.
Essa é uma história que engasga. Ainda não sei o caminho. Há tropeços, idealizações e frustrações. Mas sigo anotando, mesmo que avançando poucos metros.
No entanto, cedendo à tentação de colocar pontos de começofim naquilo que não começa e nem termina, as coisas e a vida, posso apontar um “prólogo”. Em 2022, escrevi no caderno:
Hoje, passei a tarde com minha vó e ela fez um apanhado das histórias de infância dela e dos irmãos. Falou horas sobre a vida na roça, seus estudos, o moinho d’água que moía o fubá. Depois, quando terminou, disse: “Agora acabou. Não tenho mais histórias”, mas como se desse um ponto final. Como se tivesse acabado sua vida e nada mais aconteceria.
parte da imagem não me saiu da cabeça e escrevi um conto, Aquela que repousa no centro do moinho, que enviei para publicação no mesmo ano (e que também imprimi e levei para ela, que leu e me avisou que os morangos silvestres se chamavam fragaias e que nunca nasceria musgo ali, porque todo mundo andava demais por ali).
Mas a vida tem suas coincidências curiosas. No começo da semana, minha vó teve um infarto. Precisou ser levada às pressas para um hospital, já desacordada... e antes de criar um suspense desnecessário, aviso: ela está bem e se recuperando, apesar de seguir internada para remover um coágulo do coração.
No entanto, entre a primeira noite e a manhã do dia seguinte, lembro de ter pensado: “Imagina se eu recebesse o e-mail da publicação do conto justo nessa semana?”. E recebi.
O conto foi publicado hoje na revista
depois de um processo de edição com a Luísa Montenegro e de revisão com Moacir Fio e está disponível aqui:Espero que gostem.
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você fez/faz algo que eu deveria ter feito com a minha avó materna e sei que ainda posso fazer com a mãe do meu pai, que é entrevistá-la. ouvi muitas histórias da dona Renata, as quais guardo no peito e na alma, mas podia e devia ter registrado. bom saber que dona Margarida está bem. continue gravando suas histórias, ainda que ela tenha colocado um ponto final naquele dia. elas sempre têm mais a dizer.
gostei de ler sobre os bastidores (principalmente os pitacos da tua vó) e depois seguir para o conto.
ficou muito legal, acho que ainda não tinha lido nada teu de ficção.