Intervalo Comercial #2 - Pragas Urbanas
Você sente que sua vida na cidade está complicada? Sente que, depois de um exaustivo dia de trabalho, tem que lidar com pragas urbanas que infestam sua casa e atrapalham seu descanso? Cuidado! O Intervalo Comercial de hoje é patrocinado pelo Centro de Proteção às Pragas Urbanas e pretende alertar sobre os perigos de se lidar com esses animais.
Da mesma forma que na edição passada, a ideia é mais mandar um lembrete para a próxima temporada, que começa na próxima edição, 05.agosto.2022! Mas deixei os avisos e novidades lá no fim.
O primeiro conto foi fruto de um exercício de escrita para o curso da Ana Rüsche, baseado em um prompt que encontrei na internet. Os cursos dela são bem bacanas e envolvem várias linguagens literárias (contos, não-ficção, poesia, leituras…). Se você quiser ficar ligado, só encontrar ela no Instagram. Recomendo bastante.
O segundo surgiu de um convite da Revista Mafagafo, depois que a Faísca que enviei saiu na Primeira Temporada. Fiz uma outra edição para deixar mais com a cara da newsletter, mas você pode ver o texto original e todos os outros relatórios de Criaturas Domésticas aqui.
Por fim, se você gosta da newsletter, não deixe de compartilhar com quem pode curtir — e, se você foi uma das pessoas que recebeu o texto, não deixe de inscrever seu e-mail na página inicial para não perder o começo da próxima temporada.
Você também pode, é claro, checar a campanha de financiamento coletivo rolando no Catarse. Até porque vem aí um brinde para quem apoia o projeto e eu, particularmente, estou animado.
Agora, o intervalo comercial…
Pega-Moscas
Vupt.
Foi só ao sentir o choque do jornal no braço da poltrona que ele lembrou do que Letícia disse há alguns anos, no primeiro dia de trabalho: “Não sei se eu devia te falar isso, mas cuidado. Elas não são realmente moscas. Se você matar só uma, eles vão multá-lo, mandar outras duas para lugar e te fazer uma visitinha”.
Pedro respirou fundo. Ergueu o rolo de papel devagar, olhando a fina e viscosa baba que unia as folhas sujas de notícia com o estofado puído do sofá. Tudo que restava era uma bola preta e pegajosa, quase mesclada ao tecido. As patinhas ainda tremiam, mas aquelas asas não voltariam a fazer mais nenhum zum-zum-zum. Não nessa vida.
Ele rasgou a página melecada, embrulhou o cadáver e levou até a lata de lixo. Com a tampa levantada e o pé parado na alavanca, mudou de ideia: um corpo descartado em um lixo é muito fácil de ser encontrado. Rumou até o banheiro, suando. Abriu a tampa e… e se o corpo, por um acaso, ficar preso nas bordas de um rio, em meio a juncos, sujeira ou seja lá onde for desembocar o esgoto?
Ele pegou o resto do jornal, levou para a varanda e fez uma pequena fogueira, com o corpo no meio. Agachado e olhando para os lados, ele riscou um fósforo e acendeu. Em pouco tempo, o fogo consumiu a tinta e o cadáver.
Olhando pelo céu, enquanto observava o último grão de cinza voando pela cidade, ouviu um barulho à porta. A campainha zunia pelo apartamento inteiro.
— Pedro! Abre, eu sei que você está aí. Não é difícil sentir o cheiro dos dejetos empesteando a cidade. Abra agora!
Como Pedro, diferentemente daquele cadáver, não tinha asas, não havia escapatória. Aproximou-se da porta. O chiado cada vez mais intenso. Observou pelo olho mágico.
Letícia tinha razão: eles estavam ali.
Bicho-Pêlo
Caros pesquisadores,
Junto com essa carta, envio as amostras de uma análise deveras interessante que encontrei em minhas andanças pela cidade de Nossa Senhora da Agonia. O laboratório há de ter equipamentos mais propícios e eficientes para a pesquisa desses que chamei de bichos-pêlo.
Enquanto descansava em meu quarto na pousada, a olhar para a serra que se desenha no horizonte, notei uma movimentação estranha pelo canto de olho. Ali, descobri a existência de pequenas bolinhas escuras, formadas por pelugem de origem diversa, desde cabelos humanos até dos fiapos alaranjados e cinzas que escapam dos gatos passeiam por aqui.
Ao que tudo indica, o acumulo dessas fibras podem atingir um ponto crítico e tornar viva essas pequenas bolinhas. É a hipótese que sustento nos apontamentos preliminares.
Cheguei a montar uma armadilha artificial. Escovei meus cabelos dias seguidos, sem retirar o acúmulo de fios soltos, juntei com os pelos felinos que encontrei e deixei-os repousando dentro de uma caixa de sapato.
No correr dos dias, a bola desprendeu-se da escova e conseguiu fugir. Encurralei-a no banheiro, mas a água do chuveiro e o ralo no chão deram cabo da existência dela. São os resquícios desse encontro que envio à vocês.
Espero atualizações.
Atenciosamente,
Prof. Jacques Castello
Próxima temporada onírica!
Na próxima edição, começamos a nova temporada da Ponto Nemo. Dessa vez, vamos conversar sobre sonhos: de onde eles nascem? é importante sonhar? nós sabemos sonhar?
É possível que, assim como precisamos reaprender a dormir, também precisemos reaprender a sonhar. Por isso, uma das seções que eu queria manter pelo próximo semestre é um Diário de Sonhos com relatos dos leitores, para reunir as experiências de quem lê com o mundo onírico.
O primeiro relato será especial! Graças ao Financiamento Coletivo, consegui fazer algo que queria: uma ilustração exclusiva para a abertura e outra para o encerramento das edições. A artista vai inaugurar essa área de newsletter para nós.
Por fim, tenho outra novidade: agora temos uma imagem da paisagem que é o Ponto Nemo e o recife do Estantário! O responsável por esse trabalho é o Dave Carvalho e vocês podem conferir as outras ilustrações dele no Instagram mesmo.
Para quem quiser usar como papel de parede ou algo do tipo, a imagem em alta resolução está aqui.
Obrigado por ler até aqui!
Se você gostou da edição, confira a campanha de financiamento coletivo no Catarse (ou, se quiser colaborar pontualmente, pode me dar um livro de presente) e envie para alguém que você acha que pode gostar.
Não deixe de conferir as outras edições em Ponto Nemo. Você pode conferir as outras produções no Estantário e me ouvir no podcast 30:MIN. Também estou no Twitter e no Instagram. Mas, se quiser conversar, pode responder esse e-mail.
Nos últimos 15 dias, eu:
Participei do episódio: “30:MIN 389 — A biblioteca da Meia-Noite, de Matt Heig”;
Participei do episódio: “30:MIN 390 — Como você faz pra ler clássicos?”.