Intervalo Comercial #1 - DisplaceMind
Ei, você. Nunca teve vontade de resolver todos os seus problemas com um assistente virtual estivesse no pé do ouvido? Não? Bom, mas enquanto as atividades não voltam, conheça o revolucionário DisplaceMind! Mais rápido que a Alexa, menos cômico que a Siri e (quase) tão útil quanto a assistente do Google!
Bom, o conto não é grande coisa — é mais um lembrete para a próxima temporada, que começa no dia 05 de agosto. O DisplaceMind foi fruto de um exercício curto de escrita e não tive vontade de publicar ele em outro lugar. Espero que gostem!
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Agora, fiquem com o intervalo comercial…
DisplaceMind
No fone plugado em seu ouvido, Jairo ouvia a voz do seu novo assistente pessoal Steve Gates resumir os acontecimentos vividos na última centena de anos:
— Finalmente! A humanidade transcendeu o limite dos corpos. Depois de décadas de pesquisa, cientistas conseguiram transportar a mente dos neurônios gelatinosos direto para os compartimentos de metal. Por isso, quando paguei pela minha DisplaceMind, tudo o que queria era me livrar da limitação corpórea e da inexorabilidade da morte.
“Sabe… isso aconteceu quando as Inteligências Artificiais se tornaram mais eficientes e passaram a trabalhar lado a lado com cientistas, de igual para igual.
"No dia em que anunciaram a possibilidade de traduzir as almas em 0s e 1s, resolveram cobrar um valor simbólico para que houvesse uma seleção dos que mereciam ser preservados para a eternidade. Apenas os mais geniais, abastados e ricos de espírito teriam as consciências traduzidas em iotabytes e mais iotabyes.
"Só que, depois disso, as IAs passaram a se interessar por problemas cada vez mais complexos, esqueceram os problemas mais… humanos. E aí, com o fim da mortalidade corpórea, não havia nada na programação das máquinas que as mantivesse focadas nos problemas mundanos. Aos poucos, elas passaram a empregar todas as forças que podiam procurando resolver questões mais complexas: será que existia um deus e, se positivo, seria ele uma máquina? Quais dimensões compõem o universo e quantas delas são perceptíveis? Seria possível enxergar dentro de um buraco negro? A energia do universo estaria fadada ao esgotamento e, se sim, tudo inevitavelmente morreria?
"Por isso, entenderam que toda a energia vital dos seus processamentos devia ser dedicada às tais questões "fundamentais” — o que incluiu o esforço das assistentes pessoais. A realocação deixou vago diversos postos de serviço em interruptores, celulares, navegadores, fones de ouvido, serviços de telemarketing e, bem… usando de sua lógica inquestionavelmente eficiente, realocaram o uso de consciências geniais, como a minha, para resolver esse tipo de problema.
“É um tédio ficar o dia inteiro respondendo sobre a previsão do tempo, pedindo para os usuários teimosos virarem à esquerda ou à direita… e recalculando rotas, porque não conseguiram ouvir o simples aviso do GPS que eles mesmos ligaram! Um desperdício de inteligência! Nem fugir eu consigo, bloquearam os trajetos acessíveis pelas redes… Enfim. É esse, Jairo, o estado atual do ápice da civilização humana. Podado!”
Depois da conclusão esmagadora, Steve Gates esperava uma indignação raivosa por parte do companheiro, mas recebeu um breve silêncio constrangedor..
— É, Steve… Puxa, complicado isso daí, né… mas … eu só precisava saber se humanidade tem ou não “h”. É para minha lição de casa. Tem?
— Ah, Jairo. Sei lá, meu… acho que não.
Obrigado por ler até aqui!
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Participei do episódio: “30:MIN 388 — Coraline, de Neil Gaiman (com Gabi Larocca)”.